terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

com versas

  Eu entrei naquele grande salão. Tudo parecia vazio, e branco. Tudo parecia preto, e branco. Meu silêncio ecoava, esbarrava na parede e faziam ecos-ecos-ecos.

- Alô, tem alguém aí?
- Tem alguém aí?
- Sim, eu sou o personagem.
- Clonagem?
- Não, eu estou vestindo um vestido colorido.
- Florido?
- Não, eu vim de um lugar chamado "arte".
- Marte?

  Vesti um chapéu de interrogações e dei alguns passos para trás. Tropecei em uma cortina vermelha, empoeirada de olhares e rolei até o palco. Era o ato final. O primeiro ato. Era apenas o ato. Um salto no escuro do mistério.

- Porque você repete tudo que eu digo?
- Eu vivo?
- Não quero saber de você.
- De morrer?
- Donzela, eu vim salvar você, sou o seu príncipe encantado!
- Encharcado?
- Já basta, eu estou ficando louco.

  A platéia atenta, os atores desejando merda e o grande diretor: nada existia. Eu fazia parte de todas as cenas. Corta. Borda. Volta. Havia um pouco de ballet, de improviso e de drama. Havia sim, a dama e o vagabundo. O banco dos amantes e a cartola do palhaço. Eu girava em torno de mim mesmo. Eu era tudo, e tudo era para mim.

- Adeus.
- À Deus?
- Porque você repete tudo que eu digo?

  Eu saí daquele grande salão. As paredes continuavam conversando com minhas conversas. Mas agora tudo estava colorido, todas as cores em um mesmo espetáculo: só se ouve o que se quer ouvir.

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