sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ma belle - parte 3

O que poucos sabiam, era tudo o que se havia de saber. Olhavam bem no fundo de Belle e perguntavam: "Me diga, Belle. Onde voce vive? Me diga, eu imploro." E imploravam. Imploravam tanto, que as janelas de Belle iam se fechando, se fechando, e dormiam. A casinha de Belle era ela mesma. Ela se habitava. Ela se descobria. Por fim, Belle vivia dentro dela o tempo inteiro.

ma belle - parte 2

Poucos se atreviam a bater na porta. Mas os que se atreviam, deveriam entrar. Poucos se atrevem a viver. E os que se atrevem, devem viver. Sem telhados, os barulhos de chuva eram constantes. Belle e a chuva. O nome do espetaculo atuado por ela todos os dias. Os olhinhos encharcados, sem saber onde se chorava e onde se chovia. Os cabelos escorridos. E o coraçao posto no varal para secar. As pessoas procuravam por vidas inteiras a casinha de Belle. Nao encontravam. Nao havia endereço. Ou se havia, nunca era o mesmo. Movia-se violentamente. Era uma metamorfose ambulante. Frases soltas, campos de morango e laços de vestido. As pistas levavam a todos os lugares e a lugar nenhum. Onde estarà Belle?

ma belle - parte 1

Ja era tarde, e a casa continuava vazia. Belle estava dentro, mas nao pertencia a ela. Os calçados descançavam pelos cantos. Alguns foram feitos de armadilha, amarrados pelo cadarço, de maos dadas. Castelos de livros e papéis desmoronavam a todo instante. Nas estantes ficavam as coisas mais importantes para Belle. Ela as trocava todos os dias. Uma vez ela até mesmo ficou o dia inteiro plantada em cima da estante, em posiçao fetal. Um olhar timido e um ar euforico. Nesse dia, ela era a coisa mais importante do mundo para ela mesma. O aroma entrava pelos olhos das visitas. Eram raras, assim como os visitantes que entravam dentro dela. O café combinava com tudo. Com a cor das paredes. Com a mesa do jantar. Com as velas apagadas. Com as roupas de Belle. Com Belle sem as roupas. Mas o que mais combinava com o aroma de café recém nascido, era a chuva. Pareciam uma sò. Chovia café nos arredores dessa casinha.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

o dicionario

Dizem que amor é um lugar muito temido. Habitado por monstros de cinco cabeças, chamados de "insomnia". É um labirinto torto. Dizem que coraçao é vermelho e que bate. E quanto menos bate, mais ele é de verdade. Dizem que o coraçao nao pode parar, mas no caderno da pequena menina, coraçao é feito de giz-de-cera e vive parado. Coraçao é um rabisco, e apenas um rabisco. Dizem que voce é pronome, e reclamam quando eu te chamo em silencio. Dizem, dizem, dizem, e nao sabem nada. Apenas dizem. Dizem que o dicionario é um lugar onde dizem as coisas que as coisas nunca quiseram dizer.

silencio

Hoje, nada do que eu escreva, vai dizer o que nao se consegue escrever.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

borboletas no estomago

As borboletas rumaram para o sul. Foram todas juntas, em plena harmonia. Voaram alto, passaram por baixo de pontes, rodopiaram com o assovio do vento e quase que chegaram despetaladas ao destino. Nunca souberam qual era realmente o destino de toda essa viagem. No céu, setas de estrelas indicavam, caminho por caminho, quantas vezes teriam de bater as asas por minuto. Eram muitas, muitas vezes. E quando todas pousaram o cansaço em um galho seco, estavam no estomago de uma menina.

sobre o amor

Para mim, hoje, o amor é apenas Roma ao contrario.

o menino corajoso

Que coragem teve ele. Tomou um banho de vento, e se secou com a garoa. Que a garota se molhava. Assim por que, nao sabia imaginar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

o estranho mundo de clalice

Clalice acordava trancada à sete chaves. Tudo em completa desordem, começando pelo seu nome. Abrir Clalice e descobrir o que se passava dentro dela era tarefa dificil. Nem ela mesma ousava tentar. Poderia despertar os monstros da vida adulta. Os monstros que passavam horas contando e multiplicando os dedos em numeros. Clalice queria contar estrelas. Contar estorias. Queria perder a conta. Queria se perder de todo o resto. Mas todo o resto ja estava perdido. E estar perdido, é a unica forma de se encontrar.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

(des)mentindo a despedida

Ela partiu às 07h00 do dia seguinte. Eu ainda sonhava sob o efeito da nossa ultima briga de silencios. Eu nao falava nada, enquanto ela calava tudo. Aos berros o fim foi sendo desenhado na madrugada que nao mais era de espirros provocados pela poeira da pilha de vinis espalhados pela sala e da fumaça de nossos cigarros nunca compartilhados. Ela soluçando palavras nunca antes nao ditas. Eu chorando ao contrario, por saber que a ultima noite nunca dura para sempre. O que durou, entre eu e ela, foi o nunca... para sempre.