domingo, 22 de janeiro de 2012

o dono e o piano

Ele ganhou aquele velho piano arranhado quando fizera 40 anos. Surrado como o novo dono, se ajeitava como podia às decoraçoes de uma vazia sala de estar. Um vazio perfumado por incensos importados de galaxias perdidas. Eles se tornaram companheiros inseparaveis. O dono chegava em casa, tirava os sapatos, ajeitava o chapéu e desabotoava as tristezas. Abria o piano e ia desabafando, em acordes menores, tudo que nao se podia dizer. As notas eram baixas, cansadas. Por anos a fio eles mantinham a mesma rotina. Mas um dia o piano insistiu em calar. Ficou mudo. Os acordes menores partiram para uma escala maior. Até hoje nao se sabe quem partiu primeiro, de tanta tristeza: o dono ou o piano.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

escrita

Quando escrever um dia me foi o segredo. A chave de todos os coraçoes que perdi. Os cofres de sentimentos. Os medos, os goles, os ternos, os passos. Quando escrever um dia me foi a companhia. Esperar o dia nascer, passear e dormir. Quando escrever um dia me foi de passagem. Palavras bonitas em liquidaçao. Quando escrever um dia me foi nunca mais.