quarta-feira, 14 de março de 2012

das lágrimas

 Ela nunca disse adeus. Acordou mais cedo do que de costume, me olhou nos olhos ainda sonhadores da madrugada, fez o café que tanto esquentara nossos dias frios e não tocou na nossa trouxa de roupas tão não usadas. Sentou na minha cadeira de balanço e ensaiou o bilhete de despedida dezenas de vezes. Tanto ensaiou que teve forças apenas para acender um ultimo cigarro. Ele tragou sozinho nossas tristezas. Ela levantou, trancou a porta e não disse adeus. Eu acordei com o gosto do café nos lábios, mas eles não existiam. O maço de cigarros nos bolsos, mas eles não existiam. Ela não existia, e nem sequer disse adeus. Em cima da mesa, de mãos dadas com o cinzeiro, aquele bilhete. Eu sentei, olhei para ele com os olhos embaçados e nada vi. Ele estava em branco. Sem linhas ou entrelinhas. Sem frases ou crases. Sem pontos ou contos. Sem um adeus. Antes que eu pudesse ler alguma  despedida da minha pequena, minhas lágrimas trataram de encharcar o papel. Ela não disse adeus.

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